Considero o ritual do Amaci um dos mais importantes na caminhada do médium dentro da Umbanda, é um ritual que envolve muita magia em seu processo, desde a retirada das ervas até seu preparo.
Este ritual, mantém-se vivo praticamente em quase todos os terreiros de Umbanda, principalmente os mais antigos e tradicionais. Mesmo com a expansão e o crescimento da Umbanda o Amaci continua vivo dentro da religião, pois sabemos que com esse crescimento muitos fundamentos acabaram se perderam.
O que é o Amaci
O Amaci é um banho preparado com ervas aromáticas, um ritual que envolve muita magia na Umbanda, e na minha opinião é um dos rituais mais importantes dentro dela, sendo a primeira feitura, em que você é consagrado com seu Orixá de cabeça e seu guia de frente na Umbanda.
Podemos fazer uma ligação com a palavra amaciar, isso mesmo, pois é onde o médium literalmente é amaciado com as energias das ervas. Esse é um dos rituais que caracteriza que a Umbanda não usa o Egè (sangue), uma vez que na Umbanda os rituais são feitos todos com ervas. Contudo, deixo o meu respeito àqueles que fazem o uso do Egè, pois isso é algo particular de cada terreiro e não estou aqui para julgar o certo ou errado, apenas para explicar como procedemos dentro da nossa casa.
Neste ritual, digamos que é um despertar do médium que ainda se encontra adormecido, limpando seu chacra coronário, que em sânscrito se chama Sahasrara, representado por uma flor-de-lótus de mil pétalas, na cor violeta, por meio dele recebe-se a luz divina. O Amaci é muito mais que um simples banho de ervas como alguns dizem, é um ritual que tem como objetivo preparar o médium para receber às energias com equilíbrio. Ele fortalece a ligação do médium com seu guia no momento das incorporações, funciona
contra cargas negativas, a magia desse ritual é tão forte que forma um elo direto com a vibração do Orixá e do guia de cabeça do médium, sendo esse guia que irá assumir a coroa desse filho(a) nos trabalhos de Umbanda.
Este ritual traz um momento de muita emoção para o médium, que deve ser realizado de livre e espontânea vontade. Deve ser realizado por amor, lealdade e comprometimento com a Umbanda, o terreiro e com seu Orixá e guia, cabe ao Pai ou Mãe de Santo realizar esse ritual.
Como se prepara o Amaci
Cada terreiro tem sua forma de preparar o ritual, em nossa casa, as ervas são colhidas um dia antes, em lua e horário certo, são lavadas e depois rezadas uma a uma no preparo. É um ritual que não se pode preparar de qualquer forma, pois existe toda uma magia envolvida sobre ele, e é essa magia que vai fazer a diferença no Orí de cada filho(a). Esse ritual deve ser preparado pelo Pai/Mãe de Santo da casa, como já mencionado anteriormente, uma vez que são eles que já passaram pelas preparações, tornando com certeza o axé maior.
Para que serve o Amaci?
O Amaci além de seu ato espiritual, ele tem um grande efeito na parte física do médium, fortalecendo, trazendo proteção, equilibro mental e espiritual, bem como fortalecendo o Orí. No texto a seguir refere-se ao curso que realizei com o professor e sacerdote Babá King do Oduduwa Templo dos Orixás. O texto trata de um ritual específico do Candomblé e do Batuque no Rio Grande do Sul, contudo, pode trazer um grande entendimento da importância do Amaci, pois é uma forma de você estar dando de comer a sua cabeça.
Orí a essência real do ser, é uma divindade pessoal que guia e ajuda toda pessoa antes do nascimento, durante a vida e após a morte. O sentido literal de orí é cabeça física, e esta é o símbolo de orí inú, a cabeça interior, responsável pela constituição do ser e sua trajetória existencial: quando o orí inú está bem, todo o ser do homem está em boas condições.
O orí, entidade parcialmente independente, considerada uma divindade por si própria, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas e orações, como o famoso ritual de borí, que significa dar de comer ao orí. Enquanto divindade pessoal, orí é o mais interessado de todos os orixás no que diz respeito ao bem-estar de seu devoto: pode-se dizer que é a mais importante das divindades dado que, seja qual for o empenho das outros em favorecer determinada pessoa, todo e qualquer progresso dependerá sempre do que for sancionado por Orí. Se o orí de um homem não simpatiza com sua causa, nada poderá ser feito por outra divindade. Assim, o que orí não sanciona não pode ser concedido nem por Olodumare, nem pelos orixás. Todos nós nascemos com um destino para realizar, o que não significa sermos meros joguetes nas mãos de forças inteiramente deterministas. O homem tem o poder de tomar em suas mãos as rédeas do curso da própria existência e participar de modo responsável de seu desenrolar, através da busca de ampliação da consciência e dos conhecimentos e através do desenvolvimento disciplinado da Vontade.
Certamente os esforços pessoais são mais efetivos se desenvolvidos por um olórí rere (sortudo, abençoado, bendito). Mas, para um olórí bùrúkù. (azarado, condenado à vida, amaldiçoado), a exigência de esforços é bem mais pesada. Portador de um destino adverso, muito esforço deverá despender em suas realizações. Orí inú (cabeça interna) e Eleda (destino pessoal) inter-relacionam-se, pois, intimamente. Os seres humanos são constituídos dos seguintes princípios vitais: ará (o corpo físico); òjìji (representação visível da essência espiritual que acompanha o homem durante a vida, morrendo junto com ará, embora não sendo enterrado com ele); okàn (coração, relacionado ao sangue e sede da inteligência e do pensamento intuitivo, a alma e a fonte de toda ação); Ämí (princípio ou sopro vital, relacionado à respiração, mas não se reduzindo a ela, pois se diz por ocasião da morte que èmí foi embora; significa também espírito ou ser). Um dos nomes de Elédùnmarè (o Ser Supremo ou Deus) é Orísé (Fonte da qual originam-se os seres), o que mostra sua ligação profunda com cada criatura existente. Todo orí, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Feiticeiros, bruxas, homens maus e a própria conduta podem transformar negativamente um orí, sendo sinal dessa transformação uma cadeia interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar. Podemos perguntar: como saber se a escolha do próprio orí foi boa ou má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou da cabeça de outrem? Encontramos a seguinte resposta: o jogo divinatório de Ifá possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio orí, saiba a respeito do orixá ou ancestral que deve ser cultuado e conheça seus èwò (proibições quanto ao consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais). Como se crê que o orí dos pais traz boas fortuna aos filhos, é comum a recomendação do oráculo no sentido de que sejam feitas ofertas sacrificiais ao orí dos pais e estes, ao orarem pelos filhos, apelam ao próprio orí: Orí mi á sìn ó lo (Possa meu orí ir com você ou possa meu orí guiá-lo e abençoá-lo). Analogamente, o orí de uma pessoa tem condições de proteger, ajudar ou, ainda, prejudicar outras pessoas.
Reforço de Amaci
O reforço do Amaci é feito anualmente, ou quando o médium está precisando se fortalecer, esse olhar cabe ao Pai/Mãe de Santo que dirigem os trabalhos. Esse reforço tem como finalidade fortalecer o médium, pois, podemos comparar a uma bateria, ou seja, quanto mais se usa mais carga se esgota, com a nossa energia é assim, quando o médium está precisando do reforço provavelmente seu Orí vai estar aberto, sendo assim o dirigente tem que fazer os rituais necessários para fortalecer esse médium. Ervas que são usadas no Amaci Existem uma imensidão de ervas, elas mudam de um estado do país para outro. As ervas que são usadas no Amaci devem ser frescas, em virtude de seu prana, ou seja, energia vital da erva ser bem mais forte, pois as secas não são usadas nesse ritual. Outro ponto importante é que nem todas as ervas podem ser usadas em banhos de Amaci, algumas são muito fortes e podem trazer um desequilíbrio, ao invés do equilibro, além de outras podem dar algum tipo de reação alérgica, por exemplo, o comigo-ninguém- pode.
A quantidade de ervas não precisa ser sete de cada Orixá, pois apenas uma já traz um grande efeito, por exemplo, Ogum: espada- de-ogum; Oxóssi: guiné; Xangô: folha de louro; Iansã: espada-de- iansã; Iemanjá: alfavaca; Oxum: malva cheirosa; Oxalá: tapete-de-oxalá. É óbvio que existem muitas outras ervas a serem usadas, entretanto, deixo meu alerta para que se conheça bem suas propriedades para ser usada nesse ritual tão importante dentro da
Umbanda.
Axé a todos!
Pai Márcio Paxá